sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A CRIANÇA E O LIVRO




O caminho para a leitura começa na infância quando as crianças passam a gostar de palavras e de ouvir histórias, além de animarem-se ao contar momentos de sua vida para pessoas próximas.
Mesmo não entendendo nada, a criança percebe se os livros existentes na casa têm ou não têm valor para os membros da família.
Há relatos de poetas e escritores que descobriram no decorrer de sua vida que seu amor à literatura e, mesmo, muitas de suas poesias e de seus contos tiveram o seu nascedouro já na sua primeira infância. Da mesma forma, outras pessoas descobriram a origem de sua aversão a toda e qualquer forma de literatura também na infância.
Partindo deste pressuposto, quanto mais cedo a criança tiver contatos com livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior é a probabilidade de nela nascer de maneira espontânea, o amor aos livros.
Desde muito cedo, a criança gosta de ouvir a história de sua vida, a mais importante para ela. Da reunião de histórias do passado, a criança constrói o quadro dela mesma no presente.
A literatura é importante para o desenvolvimento da criatividade e do emocional infantil. Quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância como medos, sentimentos de inveja, de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinar infinitos assuntos (CARUSO, 2003).
É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo história, geografia, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc... sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula... Porque, se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer, e passa a ser didática, que é um outro departamento (não tão preocupado em abrir todas as comportas da compreensão do mundo) (ABRAMOVICH, 2003).
Da mesma forma, as histórias inventadas são importantes. A criança precisa saber de coisas que não fazem parte de sua experiência cotidiana. É comum ela ter um amigo imaginário ou atribuir qualidades humanas e sobrenaturais a um brinquedo ou a um animal. As conversas e as histórias desses personagens, unindo o real e o imaginário, dão aos pais muitas dicas sobre seus filhos, pois é nessas horas que a criança deixa transparecer sentimentos como medo, a insegurança, o ódio, o amor.
A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência da vida real. No entanto, é necessário sublinhar: os livros devem ser introduzidos na vida da criança de acordo com o seu nível de compreensão do mundo, de seu nível de elaboração de pensamento e sua experiência anterior. Isso significa que o livro ideal para a criança é aquele em que ela encontra tanto elementos que ela já reconhece, como alguns elementos novos, a partir dos quais ela possa alargar seus horizontes e enriquecer sua experiência de vida.
Além disso, é fundamental que o livro venha sempre associado a momentos de prazer. Para os bebês o livrinho de plástico na hora do banho, com o qual ela pode bater na água e vê-la respingar, é muito prazeroso. Para crianças já um pouco maiores, nada é mais aconchegante que uma historinha bem contada, na hora de dormir.
Se os pais tivessem consciência da importância de contar uma história ao pé da cama para seus filhos pequenos, certamente teríamos uma adolescência menos traumatizada. As vozes do pai ou da mãe chegam aos ouvidos dos pequenos carregadas de afetividade.
Desta afetividade, que se expressa na voz, no olhar, no carinho e no aconchego, é que a criança precisa para minimizar os conflitos que a acompanham em seu crescimento.
A fantasia e a magia de uma história encantam e despertam a imaginação da criança e, com isso, criam condições favoráveis para o desenvolvimento de uma mente criativa e inventiva.
Por outro lado, a leitura oferece a possibilidade de se ver os dados do mundo com mais amplitude. Compreender a leitura de um texto é uma das tarefas mais significantes para a escola, professores e alunos, pois leva o indivíduo a conhecer a si e aos outros, preparando-se para sua formação humana.
Contar histórias é uma arte. Muitas pessoas têm um dom especial para esta tarefa. Mas isso não significa que pessoas sem esse dom excepcional não possam tornar-se bons contadores de histórias. Com algum treinamento e alguns recursos práticos qualquer pessoa é capaz de transmitir com segurança e entusiasmo o conteúdo de uma história para pequenos.
A escritora francesa Jaqueline Held, em sua obra “O imaginário no poder” nos apresenta muitos exemplos do sofrimento e da angústia que a solidão, pela ausência dos pais, provoca em cada vez mais crianças. Pais superocupados correm o risco de ignorar as necessidades e as carências dos filhos. O mesmo problema acontece em famílias hipnotizadas por uma televisão, que não permite diálogo.
Para despertar o amor e o interesse duma criança por livros, é de suma importância que ela veja e sinta que o livro motiva diálogo, traz prazer e estimula a comunhão e a afetividade.
A presença de livros e o hábito de leitura na família parecem ser condições ambientais favoráveis como se a leitura fosse transmitida por contágio.
Como Contar Histórias
O processo de estímulo e incentivo para se contar uma história são inúmeros, mas sua eficácia depende de como o contador os utilizará. Não há “fórmulas mágicas” que substituam o entusiasmo do contador.
Quem aspira ser um bom contador de histórias, deve desenvolver alguns passos importantes em seus preparativos:
1) a história a ser contada e apresentada deve estar bem memorizada. Por isso, é imprescindível ler a história várias vezes e estar bem familiarizado com cada parágrafo do livro, para não perder “o fio da meada” e ficar procurando algum tópico durante a apresentação;
2) destacar e sublinhar os tópicos mais importantes, interessantes e significativos, para que na apresentação recebam a devida valorização;
3) procurar vivenciar a história. Envolver-se com ela, fazer parte dela e sentir a emoção dos personagens e ao apresentá-la atrair os ouvintes para a magia da história;
4) ao apresentar a história, falar com naturalidade e dar destaque aos tópicos mais importantes com gestos e variações de voz, de acordo com cada personagem e cada nova situação. No entanto, é preciso cuidar para não exagerar nos gestos ou nas entonações de voz;
5) oferecer espaço aos ouvintes que querem interferir na história e participar dela. Quem se sente tocado em seu imaginário sente necessidade de participar ativamente no desenrolar da história. O importante é que nessa hora não haja pressa, contando ou lendo tudo de uma só vez. É preciso respeitar as pausas, perguntas e comentários naturais que a história possa despertar, tanto em quem lê quanto em quem ouve. É o tempo dos porquês;
6) toda história e toda dramatização devem ser apresentadas com entusiasmo e paixão. Sempre devem transparecer a alegria e o prazer que elas provocam. Sem esses componentes, os ouvintes não são atingidos e logo perdem o interesse pelo que está sendo apresentado.
A criança, ao ouvir histórias, vive todas essas emoções. Afinal, escutar histórias é o início, o ponto-chave para tornar-se um leitor, um inventor, um criador.
 QUE RECURSOS E MATERIAIS USAR
É recomendável ser bastante criativo no uso de recursos materiais. Não se prender a certos padrões, mas variar de acordo com o conteúdo da história a ser contada ou apresentada:
1) o velho flanelógrafo (quadro revestido de flanela ou feltro de cor lisa, sobre o qual se fazem aderir objetos ou figuras, fixadas ou removidas segundo as necessidades do ensino) pode ser uma boa opção para ilustrar uma história com vários assuntos e vários simbolismos;
2) transparências, preferencialmente confeccionadas pelas crianças, podem ser outro recurso que desperta interesse e ajuda a fixar a história;
3) slides com figuras da história que está sendo contada, projetados na parede, prendem a atenção das crianças e despertam as fantasias;
4) para pequenas encenações e dramatizações, fantoches e bichos de pelúcia são bons recursos;
5) a massa de modelar pode ser usada pelas crianças para confeccionar figuras da história que acabaram de ouvir, com isso recapitulam e fixam a história;
6) materiais colhidos na natureza e trazidos pelas crianças para ilustrar certos contos de fadas, por exemplo, prendem a atenção e valorizam a sua participação;
7) mudar de ambiente para contar a história da cidade: levar as crianças ao museu, a um cemitério com antigas sepulturas e convidar uma pessoa idosa para falar do passado. Nesse sentido se oferecem muitas possibilidades que devem ser exploradas.
No século em que vivemos o professor deve transformar sua sala de aula em um ambiente estimulante e prazeroso, utilizando-se das mais variadas situações, para que a criança possa manifestar livremente a compreensão e os questionamentos que faz a partir da leitura de textos literários. É  gratificante para o professor, sentir e perceber que seus alunos foram atraídos pelos livros e que durante seu trabalho formou leitores criativos e críticos, capazes de ler e reler, analisar e interpretar qualquer tipo de texto, seja ele de cunho pedagógico, formativo ou somente de fruição.


“O livro é aquele brinquedo que, entre um mistério e um segredo, põe idéias na cabeça”. MARIA DINORAH

Fonte:  Artigo de Monica Weingartner Otte e Anamaria Kovács – “A magia de contar histórias”.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

REFLEXÕES SOBRE NOSSO TEMPO


 Vivemos um período muito interessante na história da humanidade. Nunca antes tanta informação e tanta comunicação chegaram aos nossos lares, nossas escolas e aos nossos locais de trabalho e lazer. Os atuais meios de comunicação e informação como TV, internet, revistas, jornais e vídeos prendem a atenção de grandes e pequenos.
Em princípio isto é bom – o horizonte de conhecimentos é ampliado e está ao alcance de cada vez mais pessoas. No entanto, é preciso ver este boom de informações com muito cuidado, pois esses meios de comunicação e informação podem gerar graves problemas no desenvolvimento integral do ser humano. O perigo que nos ronda, chama-se individualismo. Crianças e adultos buscam e recebem as informações e os divertimentos, que a moderna tecnologia coloca ao alcance de todos, sem que para isso precisem envolver-se com os outros. A agitada vida profissional de nossa época faz com que no fim do dia todos estejam tão cansados que somente querem relaxar.
O diálogo em família corre o risco de desaparecer, porque aquilo que os meios de comunicação oferecem parece mais interessante e não obriga ninguém a tomar posição.
Num passado já mais distante, havia espaço e tempo no seio da família para compartilhar as experiências e as vivências do dia-a-dia. Havia disposição para ouvir, falar e para compartilhar. Em muitas famílias, após o jantar, todos se agrupavam ao redor do avô ou da avó, do pai ou da mãe, para ouvi-los falar sobre a história da família – e muitos tinham em seu meio um contador de estórias e histórias. Nessas horas um estava perto do outro, sentia o outro, afeto e carinho floresciam.
Os modernos meios de comunicação sabem contar e apresentar as velhas histórias, acompanhadas de som e imagem, de uma maneira tão bonita e fascinante, que os velhos contadores de histórias não se arriscam mais a abrir a boca. A história vem tão completa que não se precisa pedir alguma informação a mais, nem mesmo é necessário usar a imaginação.
Aqui somos confrontados com outro grave problema: a capacidade imaginativa diminui. A história apresentada na TV ou em vídeo vem tão completa que não é necessário criar imagens e usar a fantasia para entendê-la. Além disso, nesses programas o diálogo com o interlocutor é reduzido à zero. Ao espectador e ouvinte cabe olhar e escutar em silêncio – e ai se alguém ousa falar ou fazer uma pergunta...
No entender de Caruso (2003), atualmente, há opções de lazer como a televisão e o videogame. Muitas crianças estão sobrecarregadas de atividades como natação, ginástica, inglês, piano, além das obrigações da escola, da lição de casa. O tempo que elas teriam, talvez, para ler um livro está diminuindo. Infelizmente, esse é um comportamento que está ocorrendo não só com as crianças, mas com os adultos também. E, até por um aspecto cultural do Brasil, falta incentivo, o brasileiro não tem a cultura da leitura.
Diante desta realidade cabe perguntar: o que nós pais e educadores estamos fazendo para resgatar o gosto pelo imaginário nas crianças? O que estamos fazendo para ajudar nossas crianças a expressarem seus pensamentos e sentimentos e gostarem de conviver com os colegas e os membros da família? O que estamos fazendo para evitar que as crianças se tornem pessoas “ensimesmadas”, isto é, estejam centradas, quase que exclusivamente, em suas próprias questões?
A dura realidade de nossa época mostra que, dia após dia, aumenta o número de crianças que vêem os pais cada vez menos e passam a maior parte do tempo sozinhas. Razões econômicas e sociais forçam esta realidade.
Por isso, é de suma importância que pais e professores batalhem pelo resgate do lúdico, do gosto pela expressão oral/corporal, do gosto pela leitura, pelo desenvolvimento dos sentidos e sentimentos.
Fonte: Artigo de Mônica Weingartner Otte e Anamaria Kovács- "A Magia de Contar Histórias".

domingo, 25 de setembro de 2011

Educação emocional

   Uma das grandes preocupações dos pais hoje em dia, é educar seus filhos emocionalmente, ou seja, prepará-los para enfrentar os desafios impostos pela vida com inteligência. Ensiná-los a como reagir nas diversas ocorrências que podem vir a acontecer.
    Segundo, Terezinha Castilho Fulanetto, orientadora educacional,  devemos desenvolver todos os tipos de inteligência na criança, pois se todo o espectro é estimulado, a criança se desenvolve mais harmonicamente, prevenindo obstruções e evitando bloqueios de capacidades. Todas as competências da criança devem ser estimuladas.
    "Ter inteligência emocional significa perceber os sentimentos dos filhos e ser capaz de compreendê-los, tranquilizá-los e guiá-los”, diz John Gottman, em seu livro Inteligência Emocional e a Arte de Educar Nossos Filhos. Segundo ele, os pais devem ser os preparadores emocionais dos filhos, o que muitas vezes não tem ocorrido devido ao stress e a correria do cotidiano.
    A infância modificou-se muito nos últimos anos, o que vem dificultar ainda mais o aprendizado afetivo. Os pais que são efetivamente preparadores emocionais, devem ensinar aos filhos estratégias para lidar com os altos e baixos da vida. Devem aproveitar os estados de emoções das crianças, para ensiná-las como lidar com eles e ensiná-la como tornar-se uma pessoa humana.
    Porém, nas últimas décadas, uma visão desmedidamente liberal entre pais e filhos e escola/crianças tem comprometido a educação e o aprendizado, diz Roberto Lira Miranda, em Além da Inteligência Emocional: Uso integral das aptidões cerebrais no aprendizado, no trabalho e na vida. O receio de produzir crianças reprimidas está gerando uma quantidade muito grande de crianças mal educadas e emocionalmente menos aptas.
    Para aqueles pais que ainda não são preparadores emocionais, Gottman, propõe 5 passos para que se tornem:
1. Perceber as emoções das crianças e as suas próprias;
2. Reconhecer a emoção como uma oportunidade de intimidade e orientação;
3. Ouvir com empatia e legitimar os sentimentos da criança;
4. Ajudar as crianças a verbalizar as emoções;
5. Impor limites e ajudar a criança a encontrar soluções para seus problemas.
    Embora os pais tenham papel fundamental na educação emocional dos filhos, algumas iniciativas em escolas têm se mostrado positivas. Hoje, assistimos ao fortalecimento do indivíduo enquanto pessoa, fazendo com que as instituições, para obter sucesso, moldem-se aos indivíduos, treinando professores para tal missão.
    Segundo Gilberto Vitor, estamos assistindo a passagem de uma sociedade de sobrevivência para uma de realização pessoal, onde o indivíduo ganha importância enquanto valor e responsabilidade. Daí o surgimento de tantas associações.
    O "princípio da educação emocional" é simples. Devemos ensinar ao indivíduo o senso de respeito, importância e de responsabilidade. Não apenas falando ou impondo responsabilidades, mas compartilhando responsabilidade com ele. E isto é fácil de se conseguir: atividades em equipes, onde todos trabalham igualmente e possuam a responsabilidade de manter a equipe viva.
    Ainda segundo Gilberto Vitor, as "escolas emocionais" devem:
    • Investir menos esforços em medir conhecimentos (as notas) e mais tempo e enfoque na aprendizagem.
    • Compartilhar responsabilidades com seus alunos.
    • Investir nas tecnologias modernas de ensino.
    • Identificar e promover talentos individuais.
    • Promover reciclagem permanente de professores.
    • Enfatizar atividades em grupo.
    • Enfatizar a criatividade de cada aluno.
    • Ensinar o aluno como aprender.
    Percebemos que a educação deve ser prioridade do Estado. Mas não só uma responsabilidade dele. Todos devemos compartilhar na educação de nossas crianças e adolescentes, dando oportunidade a eles de crescer e "se tornar adultos", dando oportunidade de mostrarem-se à humanidade, para que fatos lamentáveis, como adolescentes incendiando mendigos, deixem de acontecer.
"Todos somos beneficiários de uma boa educação da juventude."


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Entre o espanto e a tristeza

Na tarde desta quinta, um garoto de 10 anos --aluno do 4º ano-- atirou contra sua professora, dentro da sala de aula e na presença de  25 alunos.Logo depois, saiu e atirou em si próprio, vindo a falecer.Segundo informação da Folha.com, a professora não corre risco de morte. O fato ocorreu em São Caetano do Sul (São Paulo).
Quando fatos dolorosos como este apareciam nas manchetes dos jornais, em geral aconteciam em outros países, marcadamente em território americano. Porém, esta realidade tem aparecido com mais freqüência no Brasil e nos deixa, a todos, com um profundo sentimento de tristeza misturado ao espanto. E a pergunta que fica no ar é: por que esta criança chegou a uma atitude tão extrema? Vamos aguardar as investigações e não precipitar julgamentos que não vão acrescentar nada a um fato que, por si só, já é triste o suficiente.
Meu coração de educadora une-se ao povo de São Caetano do Sul e a toda comunidade da Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, seus alunos, pais e professores. Que Deus estenda sua mãos sobre todos.   

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

10 QUESTÕES SOBRE BULLYING



O que é bullying?

Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato.
"É uma das formas de violência que mais cresce no mundo", afirma Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz. Segundo a especialista, o bullying pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa.
Além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes que passam por humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.

O que leva o autor do bullying a praticá-lo?
Querer ser mais popular, sentir-se poderoso e obter uma boa imagem de si mesmo. Isso tudo leva o autor do bullying a atingir o colega com repetidas humilhações ou depreciações. É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário, sente-se satisfeito com a opressão do agredido, supondo ou antecipando quão dolorosa será aquela crueldade vivida pela vítima.
''O autor não é assim apenas na escola. Normalmente ele tem uma relação familiar na qual tudo se resolve pela violência verbal ou física e ele reproduz isso no ambiente escolar'', explica o médico pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia).
Sozinha, a escola não consegue resolver o problema, mas é normalmente nesse ambiente que se demonstram os primeiros sinais de um praticante de bullying. "A tendência é que ele seja assim por toda a vida, a menos que seja tratado", diz.

O espectador também participa do bullying?
Sim. O espectador é um personagem fundamental no bullying. É comum pensar que há apenas dois envolvidos no conflito: o autor e o alvo. Mas os especialistas alertam para um terceiro personagem responsável pela continuidade do conflito.
O espectador típico é uma testemunha dos fatos, pois não sai em defesa da vítima nem se junta aos autores. Quando recebe uma mensagem, não repassa. Essa atitude passiva pode ocorrer por medo de também ser alvo de ataques ou por falta de iniciativa para tomar partido.
Os que atuam como platéia ativa ou como torcida, reforçando a agressão, rindo ou dizendo palavras de incentivo também são considerados espectadores. Eles retransmitem imagens ou fofocas. Geralmente, estão acostumados com a prática, encarando-a como natural dentro do ambiente escolar. ''O espectador se fecha aos relacionamentos, se exclui porque ele acha que pode sofrer também no futuro.
Se for pela internet, por exemplo, ele ‘apenas’ repassa a informação. Mas isso o torna um coautor'', explica a pesquisadora e educadora Cléo Fante.

Como identificar o alvo do bullying?
O alvo costuma ser uma criança com baixa autoestima e retraída tanto na escola quanto no lar. ''Por essas características, é difícil esse jovem conseguir reagir'', afirma o pediatra Lauro Monteiro Filho. Aí é que entra a questão da repetição no bullying, pois se o aluno procura ajuda, a tendência é que a provocação cesse. 
Além dos traços psicológicos, os alvos desse tipo de violência costumam apresentar particularidades físicas. As agressões podem ainda abordar aspectos culturais, étnicos e religiosos.
"Também pode ocorrer com um novato ou com uma menina bonita, que acaba sendo perseguida pelas colegas", exemplifica Guilherme Schelb, procurador da República e autor do livro Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil.

Quais são as consequências para o aluno que é alvo de bullying?
O aluno que sofre bullying, principalmente quando não pede ajuda, enfrenta medo e vergonha de ir à escola. Pode querer abandonar os estudos, não se achar bom para integrar o grupo e apresentar baixo rendimento.
Uma pesquisa da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) revela que 41,6% das vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem mesmo com os colegas. 
As vítimas chegam a concordar com a agressão, de acordo com Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp). O discurso deles segue no seguinte sentido: "Se sou gorda, por que vou dizer o contrário?"
Aqueles que conseguem reagir podem alternar momentos de ansiedade e agressividade. Para mostrar que não são covardes ou quando percebem que seus agressores ficaram impunes, os alvos podem escolher outras pessoas mais indefesas e passam a provocá-las, tornando-se alvo e agressor ao mesmo tempo.

Existe diferença entre o bullying praticado por meninos e por meninas?
De modo geral, sim. As ações dos meninos são mais expansivas e agressivas, portanto, mais fáceis de identificar. Eles chutam, gritam, empurram, batem. 
Já no universo feminino o problema se apresenta de forma mais velada. As manifestações entre elas podem ser fofocas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. "As garotas raramente dizem por que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e se sente culpada", explica a pesquisadora norte-americana Rachel Simmons, especialista em bullying feminino.
Ela conta que as meninas agem dessa maneira porque a expectativa da sociedade é de que sejam boazinhas, dóceis e sempre passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário, elas utilizam meios mais discretos, mas não menos prejudiciais. "É preciso reconhecer que as garotas também sentem raiva. A agressividade é natural no ser humano, mas elas são forçadas a encontrar outros meios - além dos físicos - para se expressar", diz Rachel.


O que fazer em sala de aula quando se identifica um caso de bullying?
Ao surgir uma situação em sala, a intervenção deve ser imediata. "Se algo ocorre e o professor se omite ou até mesmo dá uma risadinha por causa de uma piada ou de um comentário, vai pelo caminho errado. Ele deve ser o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo", diz Aramis Lopes Neto, presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
O professor pode identificar os atores do bullying: autores, espectadores e alvos. Claro que existem as brincadeiras entre colegas no ambiente escolar. Mas é necessário distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. "Isso não é tão difícil como parece. Basta que o professor se coloque no lugar da vítima. O apelido é engraçado? Mas como eu me sentiria se fosse chamado assim?", orienta o pediatra Lauro Monteiro Filho.
Veja os conselhos dos especialistas Cléo Fante e José Augusto Pedra, autores do livro Bullying Escolar :
- Incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças por meio de conversas, campanhas de incentivo à paz e à tolerância, trabalhos didáticos, como atividades de cooperação e interpretação de diferentes papéis em um conflito;
- Desenvolver em sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos;
- Quando um estudante reclamar de algo ou denunciar o bullying, procurar imediatamente a direção da escola.


domingo, 4 de setembro de 2011

Recado de um humanista para educadores


Vale a pena refletir sobre as considerações do professor Eugênio Mussak para nós, educadores. O artigo está no site da revista Planeta Sustentável ( http://www.planetasustentavel.abril.com.br/ )

"Eugênio Mussak, diretor da Sapiens, empresa especializada em soluções educacionais corporativas, de São Paulo, chegou a se formar em medicina, mas largou o estetoscópio para se dedicar à educação, escrever livros e ministrar palestras. Ele venera sua biblioteca doméstica com 5 mil títulos, o que não o impede de se maravilhar com seu iPad, computador em formato de prancheta digital. Mussak pertence à geração baby boomer (pós-Segunda Guerra Mundial), mas se infiltrou, com sucesso, na geração Y (os nascidos em berço digital). Histórias do tempo em que ele dava aulas de biologia, no Paraná, sua terra natal, ilustram bem seus esforços para levar inovação ao ambiente escolar. Em 1970, Mussak andava com cartazes debaixo do braço. Não tinha talento para desenhar células e insetos na lousa. Mais tarde, adotou o flanelógrafo, quadro de feltro em que fixava desenhos. Depois, partiu para o retroprojetor - um trambolho e tanto - até se encantar pelo projetor de slides. Muitos foram os anos de espera e reivindicações para que a roda da tecnologia girasse a favor do ensino.

Caçador de novidades, sim, mas, acima de tudo, educador. "Professor é aquele que se limita a passar conteúdos. Já o educador trabalha com significados, estimula a curiosidade do aluno", afirma. Na entrevista a seguir, o autor de Motivação - Do Querer ao Fazer (Papirus), entre outros títulos, explica por que os aparatos digitais, isoladamente, não são suficientes para incutir nos alunos o fascínio pelo conhecimento. E avisa: a corrida tecnológica não deve substituir o investimento pesado no desenvolvimento das pessoas.

Bons Fluidos - A escola está muito distante da nova juventude?
Eugênio Mussak - No livro Memórias de Adriano (Edhasa), a francesa Marguerite Yourcenar conta a história desse imperador romano. Um dos capítulos aborda o conflito de gerações. Portanto, naquela época, o embate geracional já existia. E vai existir sempre. Uma geração difere da outra na maneira como percebe o mundo. Vivemos um período em que essas diferenças estão mais acentuadas. Os estudantes de hoje pertencem à chamada geração Y, formada por jovens que nasceram no mundo digital. Mas, a maioria dos professores ainda habita o mundo analógico.

Cabe ao professor correr atrás da tecnologia?
Você pode ser da geração baby boomer e ter uma cabeça equivalente à da geração Y. Vai da iniciativa de cada pessoa. Hoje, o mundo é digital e quem quiser competir tem de se adequar a essa realidade. Os professores que se interessam, se atualizam, levam demandas à direção da escola, são aqueles que usam com eficácia o projetor de slides, o retroprojetor, o giz. O educador deve batalhar pela evolução dos métodos de aprendizagem. E não é só isso. A educação é bastante ajudada pela tecnologia, mas esta é apenas um meio. Um acessório poderoso que pode facilitar e acelerar a dinâmica do ensino além de motivar o aluno. No entanto, há atributos analógicos que não podem ser desprezados, como os valores humanos: respeito, compaixão, tolerância. O papel da escola é transmitir esses valores em qualquer época. O que muda são os meios que ela utiliza para isso.

Quanto tempo vai levar para as instituições de ensino conseguirem se modernizar?
Estamos num processo de evolução que vai ser mais rápido em alguns lugares do que em outros, dependendo da condição financeira. A escola particular tem mais agilidade e facilidade para se equipar do que a pública, mas isso não é uma verdade absoluta. O poder público tem mais capacidade de investimento do que a iniciativa privada. O problema é que esse dinheiro é mal aplicado. Não falta verba. Falta, sim, competência e vontade. Além disso, há o fator individual. No mundo da educação, há professores e educadores. Seres completamente distintos. O primeiro é aquele que se limita a transmitir conteúdos, enquanto o segundo trabalha com significados e estimula a curiosidade do aluno.

Alguns educadores afirmam que a demanda por múltiplas tarefas, típica do ambiente digital, prejudica a capacidade de aprofundamento. O que você pensa sobre isso?
Quando a calculadora surgiu, discutiu-se se ela deveria ou não ser usada em sala de aula. Alguns educadores temiam que o aluno não desenvolvesse o raciocínio lógico. Outros diziam que o mais importante não era fazer conta, mas saber que conta tinha de ser feita. A calculadora que se encarregasse dessa tarefa. A meu ver, os dois lados têm razão. Há momentos em que o aluno tem de trabalhar o raciocínio lógico fazendo conta. Passada essa fase, ele ganha velocidade ao usar a máquina. A discussão em torno dos novos aparatos no fundo é a mesma. Meus alunos de pós-graduação usam notebook ou iPad. Acho ótimo, pois é como se estivessem anotando suas reflexões num caderno. Sem falar no alcance do aparelho. Recentemente, numa aula, citei dez livros. No final, um aluno veio me dizer que havia baixado todas as obras. Mas há de se manter o respeito. Eu me incomodo se estou numa aula ou palestra e vejo alguém acessando o SmartPhone. Isso equivale a estar conversando com alguém. O problema não é usar o aparelho. E, sim, me desrespeitar na medida em que estou ali oferecendo algo para ele enquanto ele se distrai com outra coisa.
Como mostrar o que é relevante no meio de tanta oferta?

A geração Y desfruta um senso de coletividade que nenhuma outra experimentou. Porém, sua superficialidade é preocupante. Quando se tem acesso a uma grande quantidade de informações, acaba-se aceitando o que é ofertado, sem aprofundamento ou questionamento. Convencer esses jovens a parar e ler um livro é um desafio para os educadores. E a oferta de informações só vai se intensificar. Eis o paradoxo da civilização. Festejamos a liberdade, que significa poder escolher. Mas a escolha traz ansiedade na medida em que pressupõe a renúncia. Isso vale para todos os aspectos da vida. A educação deveria servir - e, em alguns casos, felizmente, serve - para ajudar as pessoas a fazer as escolhas. Discernir entre o dever e o poder. Posso fazer isso? Se posso, devo?
O Plano Nacional de Banda Larga tem a meta de levar a internet a 40 milhões de brasileiros até 2014, com planos a preços populares. O que dizer dessa empreitada quando muitos jovens se formam no ensino médio sem dominar as ferramentas elementares da leitura e da escrita?
Antes de serem analfabetos digitais, milhares são do tipo funcional, porque não foram educados decentemente. Não adianta esse indivíduo ter acesso à tecnologia porque ele não vai saber usá-la nem vai se interessar por ela. Não podemos aceitar a exclusão digital, só que resolvê-la isoladamente não vai solucionar o problema. É preciso valorizar o professor, disponibilizar mais verba, focar a gestão da educação e zelar pela eficiência do sistema educacional. Vi no Paraná algumas escolas transformarem o entorno por serem reconhecidas pelos moradores como centros de referência. A diferença estava no diretor, que não pode ser apenas gerente e sim um líder que entende a escola como parcela importantíssima da sociedade.
As crianças e os jovens de menor poder aquisitivo ficarão ainda mais para trás do que estão atualmente?

Provavelmente esse fosso vai aumentar. Há escolas que já usam quadro eletrônico e filmes em 3D. Por outro lado, tudo vai depender de como esses recursos são usados. Um professor burocrático não vai saber tirar proveito dessas ferramentas. O fator humano ainda é preponderante. A vontade é mais importante que o conhecimento. O sujeito com conhecimento, mas sem vontade, não faz nada. A criatividade, a reivindicação, a mobilização e a liderança, ainda que compartilhada, continuarão sendo vitais. Não dá para esperar que o Ministério da Educação ou o reitor da universidade resolvam todos os problemas. No entanto, o governo está se mexendo. Há vida inteligente na educação pública.
Muita gente diz que o livro digital, uma realidade em muitas escolas particulares de primeiro escalão, substituirá o papel. Você concorda com isso?

Temos de aprender a diferenciar dilema de impasse. O impasse pressupõe o "ou". O dilema aceita o "e". Tenho uma biblioteca em casa com 5 mil livros. Não abro mão deles. Entretanto, estou usando meu iPad com gosto. O livro é uma das maiores conquistas da humanidade. Nós não vamos descartá-lo. Acredito fortemente nisso tanto quanto acredito que o livro impresso não vai impedir o avanço da versão eletrônica. Este é somente um recurso extra.
O ensino a distância está dando certo?
A educação a distancia não vai substituir a presencial. Ela veio para agregar. Especialmente num país do tamanho do nosso. Mas, a tecnologia, repito, é apenas o veículo. Os princípios pedagógicos devem prevalecer nesse novo modelo. Há momentos em que a interatividade é fundamental. Em outros, cabe ao aluno estudar sozinho, na hora que quiser ou puder. Mas o sistema permanece o mesmo. O educador deve fornecer a informação e ajudar o aluno a construir o conhecimento. O elo afetivo continua sendo primordial e ele surge quando o mestre faz com que o aprendiz goste de determinado assunto. Isso tem a ver com a paixão que o profissional deposita em seu ofício. Meus professores prediletos foram aqueles que demonstraram amor pelo conhecimento que estavam disseminando."