sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Entendendo a Neuroeducação



Os métodos de tecnologia e pesquisa da neurociência começaram a revelar, em nível mais básico, o que acontece no cérebro quando aprendemos algo novo. Conforme estes estudos amadurecem, pode tornar possível a um pré-escolar, ou até mesmo a um bebê, participar de exercícios simples para garantir que a criança esteja cognitivamente equipada para a escola. Se bem sucedidas, essas intervenções podem exercer um efeito potencial enorme sobre as práticas educacionais, reduzindo drasticamente a incidência de várias dificuldades de aprendizado. Cientistas, educadores e pais também devem tomar cuidado com alegações exageradas de métodos de treinamento do cérebro que se pro­põem ajudar os jovens, mas cuja eficácia ainda não foi comprovada.
Lucas Kronmiller, de 8 meses, acaba de ter grande parte da superfície da cabeça carequi­nha ajustada numa touca com 128 eletrodos. Diante dele, um assistente de pesquisa sopra bolhas freneticamente para entretê-lo, mas Lucas parece calmo e alegre. Afinal, o Laborató­rio de Estudos sobre a Infância, da Rutgers Uni­versity, já não é novidade para ele. Lucas frequenta esse espaço desde  4 meses de idade. Ele, e mais de mil outros jovens nos últimos 15 anos, estão ajudando April A. Benasich e suas colegas a desvendar, mesmo na mais tenra idade, se uma criança terá dificuldades de linguagem, uma carga difícil no início do ensino fundamental.
Benasich está entre os cientistas de um grupo que emprega técnicas de gravação do cérebro para entender os processos es­senciais que fundamentam a aprendiza­gem. A nova ciência da neuroeducação busca respostas a perguntas que sempre intrigaram os psicólogos cognitivos e os pedagogos. É o caso, por exemplo, da capa­cidade de um recém-nascido de processar sons e imagens ser relacionada à aptidão de aprender letras e palavras, alguns anos mais tarde? O que significa a média de capacidade de concentração mental de um menino, em idade pré-escolar, para o posterior sucesso acadêmico? O que os educadores podem fazer para promover aptidões sociais das crianças - também es­senciais na sala de aula? Esses estudos podem complementar a riqueza de conhe­cimento estabelecida pelos programas de pesquisa em psicologia e educação.
Também prometem oferecer novas idéias, fundamentadas na ciência do cé­rebro, para melhorar o aprendizado dos alunos e preparar bebês e crianças para a leitura, escrita, aritmética e sobrevivência na complexa rede social da creche e além dela. Grande parte desse trabalho concen­tra-se nos primeiros anos de vida e nos anos iniciais do ensino fundamental, pois alguns estudos mostram que o cérebro tem maior capacidade de mudança nesse momento.
• Momento do "ahá!"
April estuda anomalias no modo como o cérebro de crianças mais jovens percebe o som, processo cognitivo fundamental para a compreensão da linguagem que, por sua vez, forma a base para a competência em leitura e escrita. A ex-enfermeira, que batalhou até obter dois doutora­dos, concentra-se no que chama de o momento "ahá!" - uma transição abrupta na atividade elétrica do cérebro, sinalizando que algo novo foi reconhecido.
Os cientistas do laboratório de April, em Newark, Nova Jersey, expõem Lucas e outros bebês a tons de certa frequência e duração. Depois, gravam uma mudança nos sinais elétricos gerados no cérebro quando uma freqüência diferente é tocada, Em geral, o traço eletroencefalográfico (EEG) desce em resposta à mudança, indi­cando que o cérebro basicamente diz: "Sim, algo mudou". Um atraso no tempo de res­posta para os tons diferentes aponta que o cérebro não detectou o som com rapidez suficiente. A pesquisa descobriu que esse padrão lento de atividade elétrica aos 6 meses pode prever problemas linguísticos dos 3 aos 5 anos de idade. Diferenças na ati­vidade que persistem durante os 3-4 anos e na idade pré-escolar da criança podem pre­dizer problemas no desenvolvimento dos circuitos cerebrais que processam as transições rápidas durante a percepção das unidades básicas do discurso. Se as crian­ças deixam de ouvir ou processar os com­ponentes do discurso - vamos dizer, um "da" ou um "pa" - com a rapidez necessá­ria, aos 3-4 anos, elas podem demorar "a questionar o som" de letras escritas ou síla­bas mentalmente, o que mais tarde pode impe­dir fluência na leitura. Essas descobertas recentes oferecem confirmação mais rigo­rosa de outra pesquisa de April, que mostra que as crianças que se deparam com problemas no início do processamento desses sons saem-se mal em testes psicoló­gicos de linguagem 8 ou 9 anos mais tarde.
Se April, e outros, conseguem diagnos­ticar problemas futuros de linguagem em bebês, também podem conseguir corrigi-I os, explorando a plasticidade inata do cérebro em desenvolvimento, ­ sua capacidade de mudar em resposta a novas experiências. Eles podem até mesmo melhorar o funcionamento básico de um cérebro de bebê que está se desenvolvendo normalmente. "O melhor momento para ter certeza de que o cére­bro está se organizando de maneira ideal para o aprendizado, talvez seja na pri­meira parte do primeiro ano', avalia ela. Os jogos, mesmo no berço, podem ser uma resposta. April e sua equipe criaram um jogo que treina o bebê a reagir à mu­dança de tom girando a cabeça ou moven­do os olhos (ações detectadas por um sensor de rastreamento). Quando o movi­mento ocorre, um trecho de vídeo é repro­duzido como recompensa pelo esforço. Em um estudo preliminar relatado no final do ano passado, este treinamento do cérebro para bebês, praticado por um período de semanas, permitiu que um grupo de 15 bebês saudáveis reagisse mais rapidamen­te aos tons que um grupo de controle. April espera que sua pesquisa confirme que o jogo também possa ajudar crianças defi­cientes a responder mais rapidamente no processamento desses sons. Ela começou a conversar com um desenvolvedor de brin­quedos interessado em criar um móbile que poderia ser colocado na lateral do berço, em casa, para treinar as crianças na percepção de sequências rápidas de som.
Fonte: SCIENTIFIC AMERICAN ON-LINE