domingo, 14 de agosto de 2011

Educando meninos


Talvez a educação tenha cometido um crime: transformou os homens sem educá-los. Não permitiu que compreendessem a si mesmos, limitou seu espaço e impossibilitou seu crescimento Não que as mulheres não precisem ser protegidas. Que o digam os longos anos de dominação masculina só abrandados sob incansável pressão social que vem resgatando sua dignidade. Vitória que as iranianas ainda aguardam e muitas africanas nem sonham. São conquistas, porém, que não alcançaram o equilíbrio, pois a sociedade esqueceu-se de preparar os homens para essa convivência. Resultado: elas cresceram e eles estão querendo avançar, libertar-se dos muitos equívocos relacionados à forma como são educados. Querem humanizar-se e valorizar o afeto. Estão inaugurando o "masculismo", movimento oposto ao feminismo, através do qual deverão rever e reivindicar valores mais humanos.

Para usufruir melhor de suas conquistas, as mulheres necessitam ter com os homens convivência harmônica. Mas o perfil masculino ainda não está completamente delineado. Estudos a esse respeito datam de 20 anos. Educar meninas cercadas por palavras de afeto e meninos por palavras duras e destrutivas está custando caro.
A violência disseminada entre jovens, sobretudo do sexo masculino, é uma das conseqüências.

"O menino cresce para agüentar e dar pancada, não para aprender a relacionar-se com as pessoas", diz o psiquiatra Luiz Cuschnir, supervisor do Serviço de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e do Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher (Iden). Ele dirige o Gender Group que analisa o comportamento de homens e também de mulheres, separadamente, no HC.

A forma como se educam os homens traça um caminho capaz de cultivar inseguranças embasadas nos sentimentos. Homens lidam muito mal com eles, pois os desconhecem.

"Eles não se entendem e não se sentem entendidos. Portanto, não se protegem das próprias emoções. E, como não se protegem, não sabem como proteger o outro da frustração", explica Cuschnir.  Pioneiro no Brasil na abordagem sobre educação e identidade masculinas, trabalha com o tema desde 1989. O grupo foi criado com objetivos bem definidos: abrir espaço para a reflexão, já que os homens não contam com local onde possam refletir sobre si mesmos. Será?

"Seu espaço, em geral, é comum a outros homens, como os estádios de futebol, onde podem comemorar. Mas não dispõem daqueles onde possam abrir-se com relação à sua identidade." É paradoxal, mas a liberdade masculina não se mostra tão livre quanto parece. Reivindica brechas por entre as tramas da educação que os contempla com bem menos do que necessitam.

"Foram educados para segurar, resistir e lutar; e não para sentir, falar, expressar-se a partir do que ocorre dentro deles", emenda o psiquiatra, que decidiu entender o desencontro e promover o encontro entre homens e mulheres. Ele os orienta e descobre novas posturas, que um e outro devem apresentar para alcançar a convivência pacífica.

Para Cuschnir, dizer que "homem não chora" é apenas uma bandeira que esconde outros deslizes sociais. "Os homens também não podem rir ou divertir-se livremente", afirma e acrescenta: "A educação masculina define o perfil do agüenta, não se mostra". Comemorar algo externo a ele, como jogos de futebol, permite-se. Mas se a comemoração for pessoal, como a promoção no trabalho ou no estudo, deve ser cercada por certos limites.

Quando adolescentes, ainda se liberam, apoiados por suas turmas, mas vão se fechando à medida que entram na fase adulta. A melhor palavra encontrada pelo psiquiatra para definir o endurecimento do homem nessa fase da vida foi "contêiner". Cuschnir descreveu tal condição no livro Homem Adolescente.

"A parte adolescente tem colorido forte e indica que existe a possibilidade de vivenciar com mais liberdade suas experiências. Já a outra parte (adulta) mostra o contêiner com pedacinho quebrado, através do qual aparece o colorido no seu interior." O autor quer demonstrar que o lado masculino sensível existe mas não aparece, encoberto pelo homem que não consegue vivenciá-lo. No livro, o adolescente olha o adulto que será e, este, o adolescente que foi um dia.


Contenção e violência

Tanta contenção pode resultar em comportamento violento, apesar de a violência ter origem em várias causas. Segundo o médico, toda agressão se manifesta em função de a pessoa ter sido agredida anteriormente. "Trata-se da resposta nascida da dificuldade em lidar com a agressividade, que vai ocorrendo ao longo de sua vida."

Aparentemente, o homem desenvolve a agressão e a devolve ou contém, nunca a elabora ou compreende. Muitas vezes, isso ocorre no momento em que ele ainda não conta com mecanismos capazes de contê-la, como na adolescência. "Nesse caso, a violência se expressa com mais intensidade e, por não ter ainda a estrutura de personalidade formada, o jovem não consegue parar e segue para a fase adulta levando-a consigo", observa Luiz Cuschnir. A maioria das pessoas que matam são homens jovens, que matam seus iguais.

Em geral, conseguem livrar-se da violência rapazes que apresentam mais maturidade. Estes "seguram" a violência mas, se ela não tiver sido compreendida para ser elaborada, vai vazar em outro momento, de outra forma.

Homens maduros, integrados, com clara noção de si mesmos e das mulheres, também trafegam com mais liberdade no seu campo.
"Por trás de tudo está a dificuldade de o homem se colocar numa relação com a mulher e com ela dividir responsabilidades", reforça o psiquiatra. Ensinado a tudo resistir, segurar e manter o papel de provedor, agrega às suas obrigações a possibilidade de dar suporte emocional à mulher, o que nem sempre consegue. Ele acaba "engolindo" e assumindo muita coisa, pois está habituado a isso.

Muitas vezes educados com visão ruim do próprio pai os meninos, quando adultos, verão o retorno desse tratamento em si mesmos. Por isso são tão sensíveis às lágrimas. "Uma mulher chorando aciona seu perfil perverso - parecido com o do pai - que o bloqueia", esclarece Cuschnir. Alguns conseguem transpor isso, mas a maioria convive com a delimitação do espaço a ele destinado.

"Às vezes, fica afetado pelo jeito como a mulher se expressa ou cobra coisas dele, sem conseguir pôr limites em suas atitudes." Num determinado momento, parte para a agressão - mais ou menos violenta - ou para o abandono.

O trabalho com grupos de ambos os sexos oferece a possibilidade de enxergar um lado e outro. Segundo o médico, a mulher não percebe o número de vezes em que o agride, pois ele não dá sinais. O nível de agressão pode ser muito pequeno - do grito, passando pela agressão física e terminando no silêncio, no desprezo, na falta de valorização. Os homens também se sentem desvalorizados e se separam por causa disso. Só não contam a ninguém. "É o que vai minando a auto-estima masculina, contaminando a relação e, num determinado momento, ele transforma-se em violento ou abandonador ", diz o psiquiatra.


Mulheres despreparadas

Não podia ser de outro modo. Mulheres e homens estão despreparados para lidar com a identidade masculina. O primeiro grupo de estudos foi divulgado através do Iden, trazido por Cuschnir de congresso realizado na Holanda. Tal qual o feminismo, o masculismo também enfrentou preconceitos. "A princípio, mesmo dentro da comunidade acadêmica, estudos sobre a identidade masculina eram vistos como coisa de gay." Cuschnir informa ter ouvido, várias vezes, de alguns profissionais que "para ser homem não é preciso fazer curso".

Ele insistiu. Trabalha com adolescentes há quase 30 anos e também foi pioneiro em destacar a importância do pai em reuniões de escola e naquelas realizadas no HC. "Os canais de comunicação entre pais e filhos, nos primeiros atendimentos em 1974, eram uma catástrofe", diz, mas acredita que vêm melhorando.
As mudanças ocorreram a partir de um referencial psicodramático, longe do psicanalítico, que trabalha a parte intelectual e verbal." Tentou-se estabelecer correlação com o afetivo, oferecendo a possibilidade de fazer o homem vivenciar emoções, colocando nelas cenas de sua vida", resume o psiquiatra. Os grupos reúnem entre dez e doze pessoas por vez e, em workshops, cerca de 30 homens e mulheres unidos, ao final, num único contexto. "A finalidade do trabalho não é o confronto, mas o encontro."
Cuschnir escreveu sobre como o homem vê a si e à mulher no livro Masculino/Feminina. Ele se vê obscuramente e à mulher com clareza cada vez maior. Quando podem expor-se, questões pendentes que têm com as mulheres vêm à tona. Vivenciam-nas, trazendo elementos de suas emoções. São angústias, necessidades e desejos em relação a eles, muito claros.

Quando são instadas a colocar-se no lugar dos homens, segundo o médico, elas pouco demonstram saber, pois não têm idéia de como eles são. "Mais expostas, diretas e extrovertidas, as mulheres facilitam seu conhecimento, embora os homens não tenham disponibilidade para oferecer muito do que elas necessitam. Já as mulheres nada sabem a respeito do que o homem quer, precisa ou deseja, mas conservam interesse em saber, para poder atendê-los", explica. Em sua afirmação, o médico contrariou séculos de dominação masculina marcados pela ordem emitida de um simples olhar ou palavra. E ainda é assim em alguns lugares. De qualquer forma, ele tem por objetivo favorecer o bem-estar de ambos. "Nos últimos anos os homens acreditaram que estariam atualizados caso sua sensibilização desenvolvesse o lado feminino." Erraram. Tal atitude os enfraqueceu. Eles foram descartados, pois as mulheres continuam preferindo "energia masculina e segurança".

O oposto também se verificou. Segundo o psiquiatra, há estudos feitos em todo o mundo que demonstram mulheres de perfis rígidos, intransponíveis, em cargos de chefia. "Elas acabaram incorporando o referencial masculino no trabalho." Enquanto isso, os homens estão procurando o "masculino deles", por meio de discussões, reflexões, vivências a respeito do que é ser homem hoje.

"Atualmente ele quer estar com mais disponibilidade afetiva, pois percebeu que ganha com isso. Abre-se assim a possibilidade de flexibilizar suas relações profissionais, num cenário muito melhor do que o ensinado." Os homens queixam-se, também, de "imensas" distorções jurídicas "decabidas", de proteção à mulher. Que o digam os descasados, vítimas de advogados e ex-esposas inescrupulosos. Em geral, esses homens reclamam de sequer terem a oportunidade de defender-se de acusações maldosas e inverídicas. Lamentam ter de comparecer a delegacias para romper, com muito sacrifício, a barreira que os separa da credibilidade irrefutável da Justiça em relação à mulher, cuja fragilidade hoje questionam.

Mas sua luta é incipiente. Eles ainda se ressentem da falta de companhia feminina. "Estatísticas comprovam que homens sozinhos têm mais doenças psicossomáticas e entre eles é alto o índice de suicídios."


O amor é a saída

Luiz Cuschnir trabalhou o primeiro amor, nos grupos de ambos os sexos. Apresentou-o em congressos brasileiros, ibero-americano e mundial, com sucesso. "Eram encontros em que se discutiam todas as linhas terapêuticas existentes e, em Jerusalém, que simboliza o foco das grandes disputas, o primeiro amor surgiu como adequado para a resolução de conflitos."
O objetivo é resgatar a fonte de amor nas pessoas; buscar sua capacidade de amar sem traumas. O médico acredita que o ser humano nasce puro e começa a "engasgar, a se interromper" ao longo da vida e das experiências. A partir de práticas desenvolvidas no primeiro amor, o indivíduo começa a recuperar-se e a amar novamente, aceitando a possibilidade do encontro com o outro de modo menos atritado.

"Homens relacionam-se com mulheres, às vezes, totalmente contaminados por situações que o atingiram ainda na adolescência, quando viveu o primeiro amor." Se foi abandonado ou zombaram dele, arrastará as conseqüências deste fato até que seja compreendido. Segundo o médico, hoje já existe a consciência sobre a necessidade de integrar emoção e raciocínio, como acelerador de sua capacidade de inteligência. É como deverá ser o homem do século 21.

Para Cuschnir, eles "estão sem saída" e já perceberam a urgência em transformar "robotização" em "humanização": "Sabem que o que conquistaram é facilmente reproduzível e, principalmente, pode ser executado por mulheres de forma muito mais adequada".
Escrito por Ieda S. Santos

domingo, 7 de agosto de 2011

Um texto para reflexão



Li, gostei e deixo para uma reflexão, o texto da Psicóloga Escolar Luciana Stoppa dos Santos, "Transtornos de Aprendizagem e Fracasso Escolar: uma correlação possível?"

"Não é raro professores receberem dos médicos um rol de estratégias pedagógicas a serem utilizadas com alunos com Dislexia e TDAH. O Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos (2009)  afirma: “sem dúvida o cérebro pode armazenar informações. Mas que tipo de informações? Os neurocientistas não tratam destas questões. Responder a elas é o trabalho de cientistas cognitivos, pesquisadores educacionais e outros estudiosos que investigam os efeitos das experiências sobre o comportamento e o potencial humano”. Mas será que os educadores estão assumindo seu importante papel de mediadores da aprendizagem? Estão sendo investigadores e “especialistas” em estratégias pedagógicas dentro da sala de aula? Corremos o risco do Fracasso Escolar tornar-se problema de saúde pública e não de educação, legando à Dislexia e ao TDAH as causas do “não aprender”, ou seja, reduz-se uma questão com sérias implicações culturais, econômicas e socais à um fenômeno biológico.
Não se trata de negar o substrato biológico, mas trata-se de ampliar a discussão de um problema que tem sérias implicações sociais, econômicas e culturais. Acredito que há muitas lacunas na formação do professor quanto às bases neurais da aprendizagem, contudo tal formação deve abordar questões relacionadas ao funcionamento do cérebro saudável, para então pensar no cérebro com o possível transtorno. Ao prover este tipo de formação o professor terá total condição de traçar estratégias pedagógicas para ensinar a todos e a cada um em suas especificidades. Quando esta privilegia o cérebro com transtorno, o perigo é intensificar avaliações subjetivas – os estereótipos – que corroboram o sucesso ou o fracasso escolar dos alunos.
Collares e Moysés  ressaltam esse processo quando afirmam que “a aprendizagem e a não-aprendizagem sempre são relatadas como algo individual, inerente ao aluno, um elemento meio mágico, ao qual o professor não tem acesso, portanto, também não tem responsabilidade”. O diagnóstico atribui (ainda que não explicitamente) a responsabilidade de não aprender unicamente à criança. Educadores, psicólogos e demais profissionais devem estar alertas às conseqüências da cultura de medicalização da sociedade, de um discurso que há séculos dita normas e padrões de saúde e doença, incluindo nestes “desvios da normalidade” as questões do “não aprender na escola”. Ainda que consideremos o TDAH e a Dislexia como fatores que interferem no não aprender, temos uma parcela imensa de crianças não diagnosticadas que não aprendem. E o que dizer daquelas que estão dentro da curva normal: será que estão aprendendo da melhor forma?

Acredito que estratégias eficientes para crianças com TDAH e Dislexia podem e devem ser utilizadas com todas as crianças, pois normalmente privilegiam a presença do educador junto ao aluno e conseqüentemente favorecem o olhar deste profissional para as peculiaridades do mesmo. Falar sobre o fracasso escolar implica discutir concepções de infância, de família e de escola, ampliando assim, o universo de reflexão e distanciando a questão da simples medicalização ou patologização do “não aprender”.Se outras discussões são necessárias, partamos a elas.
A criança dos últimos vinte anos cresce em espaços extremamente limitados e convive muito pouco com seus pais, sendo que os profissionais da escola são muitas vezes os únicos adultos com quem ela se relaciona durante um dia inteiro. Por sua vez, os pais educados de maneira repressiva e que por conta das exigências mercadológicas distanciam-se de seus filhos, compensam a ausência com excesso de mimos e de permissividade, não permitindo a eles desenvolverem a importantíssima capacidade de tolerar frustrações! Somado a isso, há o intenso bombardeio de informações vindas dos veículos de comunicação e a presença maciça e muitas vezes indiscriminada da tecnologia na vida de crianças bem pequenas. As mudanças de paradigmas são inevitáveis, porém vêm sempre acompanhadas de excessos: na tentativa de construir novas formas de ressignificar a vida, o ser humano acaba indo de um extremo ao outro! E as crianças tornam-se as maiores vítimas deste processo. O que dizer ainda do modelo educacional que segue à risca a cartilha da medicalização, padronizando e excluindo o que não se adapta: crianças portadoras de deficiência, por exemplo, conquistaram somente a partir da LDB de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases para a Educação – o direito de freqüentar as escolas regulares, fora das salas especiais (essa ainda é uma questão polêmica, pois muitas escolas não se adaptaram para receberem as crianças).  A educação médica privilegia o sintoma e deixa de lado o sentido de sua manifestação. Os “sintomas” que temos são: crianças inquietas, “indisciplinadas”, que não estão aprendendo e que continuam sendo ignoradas. Entretanto, cabe aos profissionais da educação e gestores públicos identificar as causas do fenômeno e aplicar as medidas adequadas para solucioná-lo. Solucionar os “problemas de não aprender” significa promover a reestruturação dos projetos político-pedagógicos e dos currículos. Tal reestruturação deve ser acompanhada de mudanças na concepção de aprendizagem, que estimula a competição e responsabiliza unicamente o aluno ou a escola pelo sucesso e pelo fracasso, ao ser referendada pelo resultado.
Além disso, importa ficar atento às manobras políticas que se travestem em políticas de equidade como slogans do tipo “Educação para todos”. Para o Estado, a “redução” nos índices de Fracasso, ou redução da Evasão Escolar, significa a diminuição de custos sociais (menores investimentos em cultura, lazer e prevenção de violência, visto que as crianças agora estão dentro da escola) e políticos (a sociedade deixa de pressionar o Estado). Agora o aluno não abandona a escola, afinal a aprovação é compulsória. Entretanto, Freitas [4] afirma que houve, desse modo, a internalização do fracasso, pois o sistema educacional transformou a exclusão formal em exclusão subjetiva ao criar trilhas desvalorizadas no interior da escola, usando recursos como salas de aceleração, reforço de ciclo e correção de fluxo.

Não critico a progressão continuada, pois acredito que a reprovação não garante o aprendizado. Ao contrário, aponto algumas deturpações no modelo brasileiro, que não a utiliza da maneira como foi concebida – aqui ela acaba sendo aprovação automática. Diante de polêmicas como estas, como ficam neurocientistas e educadores que se propõem a integrar as ciências do ensino-aprendizagem sem cair no lugar comum de apenas conhecer sobre a doença e seu diagnóstico? Qual o papel dos profissionais da educação que buscam essa nova forma de compreensão do fenômeno da aprendizagem? Acredito que a integração é aquela que busca dirimir qualquer concepção que exprima dualidade e considera os indivíduos a partir de seus determinantes subjetivos, sociais, culturais e biológicos. Dialogar e transitar por diferentes áreas de conhecimento – filosofia, antropologia, sociologia, psicologia, pedagogia e neurociência – é fundamental para o educador moderno, que cria novas possibilidades de trabalho dentro e fora da sala de aula e que tem papel decisivo na sistematização de novos conhecimentos e no direcionamento da agenda de pesquisas na academia."

sábado, 6 de agosto de 2011

A Escola e o Dia dos Pais


A comemoração do Dia dos Pais tornou-se motivo de questionamento para as escolas. O mesmo acontece com o Dia das Mães. Ou comemora-se ambos ou apenas o Dia da Família, tendo em vista as diversas formações que a mesma adquiriu em nossos dias, e a ausência de um dos genitores, pelas mais diversas razões, representar para a criança o reacender de uma triste lembrança. Penso que a decisão cabe a toda comunidade escolar, para que possa atender às necessidades específicas de cada realidade e, especialmente, de nossas crianças.
Para ilustrar o tema e refletirmos sobre a questão, reproduzo, a seguir, um artigo da Revista Veja: UMA NOVA FORMAÇÃO.
Está ficando cada vez mais comum morar com mãe, pai, mãe e padrasto, pai e madrasta e meio-irmãos. Todos os anos, mais de 1 milhão de crianças e adolescentes são envolvidos em casos de divórcio nos Estados Unidos, segundo o censo americano. No Brasil, as estatísticas falam em 120.000 filhos atingidos pela separação dos pais. Contando os casos não oficializados, estima-se que sejam 400.000 crianças por ano. Para o homem e a mulher, o impacto da separação é grande, mas os dois lados conhecem a fundo as razões que sustentam a decisão. Para as crianças, que são colhidas por uma notícia inesperada, o fim do casamento dos pais representa um dos períodos mais difíceis de suas vidas, mesmo que tenha sido a melhor solução para desavenças incontornáveis. Por um lado, os filhos passam a viver sem a presença constante de um dos pais (normalmente o pai), e a lidar com situações desconhecidas e muitas vezes traumáticas, como ter duas casas para dormir, mudar de bairro, trocar de escola e de amigos. Mas há um segundo motivo. Como agravante, além de perder a companhia de um dos pais, os filhos podem ser submetidos a uma provação: adaptar-se a uma nova família.
Pelas características, as novas famílias são chamadas pelos psicólogos e psiquiatras de famílias-mosaico, ou famílias reconstituídas. O crescimento do número de separações e o aumento desses mosaicos são um grande avanço, pois apontam para uma relação familiar mais honesta. Casais que já não se suportam deixam de se sentir obrigados a viver juntos pelo resto de seus dias, ainda que tenham filhos. As relações se estabelecem a partir da vontade de permanecer juntos, e não apenas das convenções sociais. O que intriga os especialistas é saber até que ponto as famílias-mosaico interferem na formação das crianças. Alguns profissionais observam que a separação é sempre muito arriscada. "Até os 5 anos de idade, a criança pode sofrer com a separação porque ela fica muito dependente e estabelece troca somente com figuras próximas", diz o psiquiatra infantil Alfredo Castro Neto, do Rio de Janeiro. Outros lembram que as novas uniões podem ser muito úteis para compensar os efeitos da separação. "Nas famílias reconstituídas predomina a solidariedade entre os filhos por causa dos problemas semelhantes vividos e da identidade geracional", afirma o psiquiatra Antônio Mourão Cavalcante, professor da Universidade Federal do Ceará.
É difícil tirar conclusões definitivas em torno de um tema tão complexo. Um trabalho do psiquiatra Haim Grunspun, da PUC paulista, que acompanhou um grupo de crianças por dois anos após o fim do casamento dos pais, concluiu que a separação, se mal conduzida, pode ter potencial devastador. A pesquisa revela que os bebês até os 2 anos podem desenvolver comportamento mais medroso e apresentar sintomas de regressão. As crianças com 4 e 5 anos tendem a encarar a separação como temporária e acham que podem influir no comportamento dos pais. Em alguns casos, apresentaram desorientação, pouca agressividade e inibição nos jogos. Já os filhos de 5 a 6 anos se sentiam culpados, achando que provocaram a briga entre o casal. Essa interpretação equivocada por parte das crianças provocava abalo da autoconfiança, raiva incontida, sensação de responsabilidade pela reconciliação dos pais e dificuldade em se ligar a novas pessoas que entram para a constelação familiar.
O stress da separação faz com que os primeiros anos das novas famílias sejam os mais conturbados, época em que as crianças podem ficar menos amáveis ou apresentar problemas de ordem emocional e educacional. A resposta que elas darão à nova situação - superando-a ou não - vai depender da qualidade da relação que manterão com os pais e da habilidade que estes terão para lidar com as dificuldades dos filhos. "Os pais precisam transmitir às crianças que o par amoroso se rompeu, mas os dois continuam a dar amor e apoio aos filhos", diz a psicóloga Terezinha Féres Carneiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Na fase aguda de adaptação, os filhos pequenos podem apresentar distúrbios típicos de sua faixa de idade, como sono interrompido, além de vômito, cólica e inapetência.
O modo de encarar os filhos do divórcio está mudando, o que facilita a vida dos pequenos. Num passado recente, coisa de vinte anos atrás, crianças nessa situação eram discriminadas e havia quem perdesse amigos porque era filho de mãe desquitada. A separação era compreendida como derrota - normalmente da mulher. Ter a mãe casando novamente, ver o padrasto ir a uma reunião da sua escola, conviver com um meio-irmão eram coisas impensáveis. Hoje, tudo está muito diferente. Nos melhores colégios brasileiros, a presença de alunos com configurações familiares variadas virou rotina.
Artigo Revista Veja