terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Um olhar para nossa prática

Hoje deixo, como sugestão, um texto de Rubem Alves para ser trabalhado em uma reunião pedagógica. É sempre bom lembrar que ensinar, além de ministrar conteúdos, é um ato que comporta, antes de tudo, amorosidade.




O aluno perfeito
Rubem Alves
Ele se chamava Memorioso, pois seus pais julgavam que a memória perfeita é essencial para uma boa educação. 

Era uma vez um jovem casal que estava muito feliz. Ela estava grávida, e eles esperavam com grande ansiedade o filho que iria nascer.

Transcorridos os nove meses de gravidez, ele nasceu. Ela deu à luz um lindo computador! Que felicidade ter um computador como filho! Era o filho que desejavam ter! Por isso eles haviam rezado muito durante toda a gravidez, chegando mesmo a fazer promessas.

O batizado foi uma festança. Deram-lhe o nome de Memorioso, porque julgavam que uma memória perfeita é o essencial para uma boa educação. Educação é memorização. Crianças com memória perfeita vão bem na escola e não têm problemas para passar no vestibular.

E foi isso mesmo que aconteceu. Memorioso memorizava tudo que os professores ensinavam. Mas tudo mesmo. E não reclamava. Seus companheiros reclamavam, diziam que aquelas coisas que lhes eram ensinadas não faziam sentido. Suas inteligências recusavam-se a aprender. Tiravam notas ruins. Ficavam de recuperação.
Isso não acontecia com Memorioso. Ele memorizava com a mesma facilidade a maneira de extrair raiz quadrada, reações químicas, fórmulas de física, acidentes geográficos, populações de países longínquos, datas de eventos históricos, nomes de reis, imperadores, revolucionários, santos, escritores, descobridores, cientistas, palavras novas, regras de gramática, livros inteiros, línguas estrangeiras. Sabia de cor todas as informações sobre o mundo cultural.
A memória de Memorioso era igual à do personagem do Jorge Luis Borges de nome Funes. Só tirava dez, o que era motivo de grande orgulho para os seus pais.
E os outros casais, pais e mães dos colegas de Memorioso, morriam de inveja. Quando filhos chegavam em casa trazendo boletins com notas em vermelho eles gritavam: "por que você não é como o Memorioso?"
Memorioso foi o primeiro no vestibular. O cursinho que ele freqüentara publicou sua fotografia em outdoors. Apareceu na televisão como exemplo a ser seguido por todos os jovens.

Na universidade, foi a mesma coisa. Só tirava dez. Chegou, finalmente, o dia tão esperado: a formatura. Memorioso foi o grande herói, elogiado pelos professores. Ganhou medalhas e mesmo uma bolsa para doutoramento no MIT.

Depois da cerimônia acadêmica foi a festa. E estavam todos felizes no jantar quando uma moça se aproximou de Memorioso e se apresentou: "Sou repórter. Posso lhe fazer uma pergunta?" "Pode fazer", disse Memorioso confiante. Sua memória continha todas as respostas.

Aí ela falou: "De tudo o que você memorizou qual foi aquilo que você mais amou? Que mais prazer lhe deu?"

Memorioso ficou mudo. Os circuitos de sua memória funcionavam com a velocidade da luz procurando a resposta. Mas aquilo não lhe fora ensinado. Seu rosto ficou vermelho. Começou a suar. Sua temperatura subiu.

E, de repente, seus olhos ficaram muito abertos, parados, e se ouviu um chiado estranho dentro de sua cabeça, enquanto fumaça saia por suas orelhas. Memorioso primeiro travou. Deixou de responder a estímulos.

Depois apagou, entrou em coma. Levado às pressas para o hospital de computadores, verificaram que seu disco rígido estava irreparavelmente danificado.

Há perguntas para as quais a memória não tem respostas . É que tais respostas não se encontram na memória. Encontram-se no coração, onde mora a emoção...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Retornando




Férias chegando ao seu final, ainda em clima de um calor escaldante.  E os preparativos para receber professores e alunos nos mobilizam e animam. Então, vamos começar o ano com ótimas vibrações, dando boas-vindas a todos através da leveza e comprometimento da dança...
 “DANÇAR É COMO CRESCER.
UM PROCESSO LENTO, CHEIO DE SURPRESAS E LUTAS.
A REALIZAÇÃO DE FEITOS QUE PARECEM IMPOSSÍVEIS DE SE CONCRETIZAR;
ACROBACIAS QUE EXIGEM MUITO MAIS QUE HORAS DE TRABALHO
QUE SÓ OUSADIA TEM CAPACIDADE DE EXPLICAR.
UM CONSTANTE APRENDIZADO PARA O QUAL NEM SEMPRE É NECESSÁRIO NOS PREPARAR.
É PRECISO TER TALENTO.
SABER MISTURAR, EM DOSES CERTAS, FORÇA E SENSIBILIDADE.
CONHECER LIMITES E CAPACIDADES.
SEM TEMER O FRACASSO.
AMAR.
AMAR-SE.
SEM MEDOS.
CORPO E MENTE EM PERFEITA HARMONIA.
ESSA INTEGRAÇÃO, O SEGREDO DA ETERNA LIBERDADE, QUE NOS PERMITE ALCANÇAR VÔOS MUITO, MAIS MUITO MAIORES.
ISTO É DANÇAR!”
(desconheço o autor)
Esta é minha sugestão para a primeira reunião da equipe escolar. Comecemos o ano ensaiando os primeiros passos de um ritmo qualquer (valsa, samba, rock...). À medida que formos evoluindo em nosso aprendizado, que possamos incluir outros em nossa dança, até formarmos um corpo só, em perfeita harmonia. Como diz Martha Medeiros:
“Qualquer um pode dançar sozinho. Aliás, deve. Meia hora por dia, quando ninguém estiver olhando, ocupe a sala, aumente o som e esqueça os vizinhos. Mas dançar com outra pessoa, formar um par, é um ritual que exige uma espécie diferente de sintonia. Olhos nos olhos, acerto de ritmo. Hora de confiar no que o parceiro está propondo, confiar que será possível acompanhá-lo, confiar que não se está sendo ridículo nem submisso, está-se apenas criando uma forma diferente e mágica de convivência.”
Um retorno repleto de novas aprendizagens à todos.