A pedido da Sociedade Brasileira de Pediatria, o Instituto de Pesquisas Datafolha ouviu crianças de diversos pontos de nosso país, de 4 a 10 anos, que responderam a questões sobre o que as deixam realmente felizes. Esta é uma pesquisa inédita e, para os pesquisadores, havia uma dúvida quanto a estes fatores de felicidade estarem relacionados às condições sócio econômicas e culturais de nossas crianças. Para surpresa dos pesquisadores, nenhum destes aspectos foi relevante para contribuir para um grau menor ou maior de felicidade na infância.
Dedico especial atenção às questões relacionadas à escola. Quando perguntadas do que gostavam na escola, as crianças não titubearam: 91% citaram as férias e 89%, o recreio. A análise feita pela Coordenadora de Pedagogia da Unicamp (SP), Maria Márcia Malavasi, quanto ao resultado da pesquisa foi de que “elas gostam dos momentos em que podem brincar sem atividades guiadas”. Particularmente, considero preocupante e digno de uma avaliação mais aprofundada de todo educador brasileiro. Se o melhor que podemos oferecer a nossos alunos é o período de férias e o recreio, é evidente que não há interesse pela maior parte das aulas e assuntos. Precisamos transformar os conteúdos obrigatórios quanto à sua forma de apresentação, instigar, dar sentido e vida ao que se ensina em sala de aula. Nossos alunos precisam de desafios, de informações, de contextualização.
Mesmo conscientes da realidade, chegamos à sala de aula com a mesma forma de repasse de nossos antepassados. Falando de assuntos desconexos com a vida dos alunos, mesmo quando o próprio conteúdo naturalmente desperta o interesse dos pequenos. O assunto é o mesmo, mas existem formas de despertar a atenção dos estudantes. Do outro lado das carteiras estão seres humanos que já contém uma carga que os diferencia entre si e entre nosso mundo e o deles.
Podemos responsabilizar o Estado por não investir em capacitação, em reciclagem de manejos didáticos, por não valorizar os professores com salários dignos e admitirmos, enfim, que tudo está perdido. Assim podemos justificar nossa pobre atuação e manter o modo desinteressante de ensinar (afinal, a aprovação é automática mesmo!).
Tudo sempre esteve muito bem "arrumadinho": professor ensina algo inquestionável, aluno aprende e reproduz exatamente como aprendeu e todos são felizes para sempre, como nos contos de fada. Esse conto, porém, continua e depois do "final feliz", tem início um período sombrio, recheado de incertezas, novos paradigmas e impulsionado pela mudança cada vez mais intensa e freqüente.
Por outro lado, podemos promover uma aprendizagem significativa como parte de um projeto educacional libertador, que visa à formação de homens conscientes de suas vidas e dos papéis que representam nelas. É impossível ensinar liberdade cerceando idéias, oprimindo participações e ditando verdades. Apercebermo-nos dessas atitudes é essencial para que iniciemos um real processo de transformação da nossa prática e venhamos a ter alunos que vêem no período que passam em sala de aula, o momento mais significativo e feliz de sua vida escolar.