sábado, 14 de abril de 2012

A ESCOLA EM PÂNICO 2




Como os filmes em série, nossas escolas merecem todas as edições possíveis  para que exercitemos um olhar analítico, a partir da distância necessária para a crítica comprometida com o desejo de uma educação de qualidade. Os ângulos pelos quais me propus a desvelar nossa realidade são parte de minha vivência, minhas pesquisas e minha visão de educadora.

Dedico este post aos professores, aos quais transmito minha maior admiração e respeito. Os diversos artigos que tenho lido sobre educação tem colocado sobre os ombros do professor todos os encargos possíveis para gerar mudanças no quadro atual, com afirmações de que “o professor deve...”, “o educador precisa, necessita ...” . Além disso, apresentam-se conceitos sobre o perfil ideal de professor, que deve ser perseguido e executado urgentemente, caso contrário, o educador estará fadado ao total fracasso. Os adjetivos que os qualificam em uma categoria e outra vão desde “fascinantes” até “educador do futuro” para os poucos privilegiados, e “bons” e “despreparados”, para a grande maioria.

Ora, mas como é possível não sermos capazes de nos  reconhecer como seres capazes de educar, que precisam despertar suas habilidades adormecidas e utilizar nossa criatividade?  Como não percebemos que é hora de criarmos projetos inovadores, que ultrapassem a fronteira das teorias? Por que não entendemos que precisamos ter clareza de nossas obrigações e assumirmos nossas responsabilidades como cidadãos, enfrentando os desafios que certamente surgirão? Surgirão?

Segundo a afirmação de uma colega, “os educadores, necessariamente, deverão deixar de se esconder atrás de um quadro-negro e enfrentarem os desafios de hoje, de forma que possam criar seres felizes, revolucionários e empreendedores.” Então, pergunto: por que o quadro-negro tornou-se esconderijo? Como “criar” seres felizes, revolucionários e empreendedores quando o próprio educador é desvalorizado, agredido e exigido à exaustão?

De acordo com a Dra. Marilda Lipp, “a profissão e o trabalho irão determinar grande parte de nossas vidas. O trabalho satisfatório determina prazer, alegria e, sobretudo saúde”.  Trata-se de um investimento afetivo. Quando o trabalho é desprovido de significação, não é reconhecido ou é fonte de ameaças a integridade física e/ou psíquica, acaba por determinar o sofrimento do trabalhador. Uma serie de eventos podem ser causadores de stress no professor, como a falta de reconhecimento, a falta de respeito dos alunos, dos governantes e sociedade em geral, e principalmente a falta de remuneração e as horas usadas para correção de provas, trabalhos, etc., que subtraem uma parte de suas horas livres. Tudo isso pode levar o professor a insatisfação, desestímulo e à falta de perspectiva de crescimento.

O processo de ensino-aprendizagem pode sofrer influências do nível de stress do professor e, por conseguinte, afeta os alunos. Segundo afirma a Dra.Marilda Lipp: “o stress só existe porque o homem o toma para si, alimenta-o e o carrega consigo por onde anda, afetando os que cruzam este caminho”. No caso do professor, os que mais cruzam o seu caminho são os alunos. As principais dificuldades encontradas pelos professores alfabetizadores, por exemplo, são: falta de apoio e participação dos pais; o próprio processo de alfabetização; crianças altamente desinteressadas para aprender (desmotivadas); falta de apoio técnico especifico diante de crianças com dificuldade de aprendizagem e classes numerosas.

Já é confirmado, por meio de dados e números, o que empiricamente já se supunha, ou seja, o quão estressante se constitui a profissão docente na contemporaneidade. Investigar as causas desse estresse, diagnosticá-lo em suas fases iniciais pode lançar alguma luz na possibilidade de uma melhoria significativa na qualidade de vida dos professores, conduzindo a relações mais saudáveis entre os pares e entre todos os membros relacionados ao entorno escolar. Porém, essa compreensão ainda não despontou entre a maioria de nossos líderes políticos. O reconhecimento de que é necessária uma profunda mudança de percepção e de pensamento para garantir nossa sobrevivência, ainda não atingiu a maioria de nossos líderes, que não só deixam de reconhecer como diferentes problemas estão interrelacionados, como também se recusam a reconhecer como suas, assim chamadas, “soluções” afetam as gerações futuras.

Precisamos seriamente cuidar uns dos outros. Não teremos a escola que sonhamos e que educa, se continuarmos a destruir a nossa qualidade de vida, a qualidade de vida de nossos educadores. Que os japoneses nos sirvam de modelo.


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