domingo, 8 de abril de 2012

A ESCOLA EM PÂNICO



A partir de 2011 começou a valer a recomendação do Ministério da Educação (MEC) para que as escolas não reprovem os alunos dos três primeiros anos do ensino fundamental, criando um ciclo de alfabetização (?). A orientação do MEC faz parte de uma proposta do Conselho Nacional de Educação (CNE) para a estruturação dos nove anos da educação fundamental.  Aqui, no Rio Grande do Sul, sei de municípios que não reprovam até o 5º ano!

Segundo o Correio Brasiliense, no Distrito Federal a rede pública começou a trabalhar com o Bloco Inicial de Alfabetização (BIA) em 2005. Esta sistemática determina que alunos dos dois anos iniciais do ensino fundamental não podem repetir o ano. Mesmo assim, de acordo com dados do censo escolar 2009, o DF ainda tem uma taxa de 8,4% de reprovação nos quatro primeiros anos, sendo que no terceiro esse número sobe para 17,5%. A média brasileira para o primeiro é de 5%. Segundo a coordenadora do ensino fundamental da Secretaria de Educação do DF, Luciana da Silva Oliveira, esses dados refletem os números de repetência por falta... quando o aluno perde mais de 25% das aulas. Mesmo assim, admite que a taxa é alta.
Carlos Eduardo da Silva Sousa, 8 anos, é um dos exemplos desse novo método. Mesmo com dificuldades de aprendizado, seguiu para os anos seguintes até chegar ao fim do terceiro, quando reprovou. Segundo algumas de suas professoras, ele manteve uma postura brincalhona em relação às aulas durante os três primeiros anos, o que ele não nega. “Eu brincava toda hora, aí, reprovei. Minha mãe me deixou sem bicicleta por dois meses. Em português, minha nota é lá embaixo, mas eu tenho que passar agora para não ficar sem as coisas que eu gosto”, conta o menino.
Carlos Eduardo está nos dizendo que:
1.    é  uma criança que quer brincar, mas foi colocado em uma classe de 1º ano aos 6 anos. Concluiu a Classe de Educação Infantil aos 5 anos, onde o objetivo primordial era atender  aos desejos naturais de toda criança: compartilhar com colegas o espaço de ludicidade proporcionado pela escola;
2.    ao ingressar no 1º ano viu-se diante de uma realidade totalmente contrária a suas necessidades, inclusive de ambiente de sala de aula, onde foi obrigado a fazer uso de mesas e cadeiras inadequadas ao seu tamanho e idade, a sentar-se voltado para a professora e o quadro verde, a obedecer mais e mais regras a cada dia, a fazer silêncio, a não brincar com o coleguinha, a  aprender tudo o que a professora lhe ensinasse e a aguardar, ansioso, pelo momento de ir para o pátio e, finalmente, poder brincar;
3.    por não conseguir corresponder ao que os adultos esperavam dele foi reprovado e, para não perder o que mais gosta, vai empenhar-se ao máximo e tentar não detestar a escola.
É possível que não tenhamos entendido nada disso? Nós, educadores, que convivemos com  esta realidade, compreendemos todos os Carlos Eduardo que, a cada ano e cada vez mais pequeninos, ingressam em nossas escolas. É, para nós, muito mais penoso, vê-los perder o encanto natural da infância e o possível amor à escola e ao estudo, do que reprová-los. É muito mais difícil constatar que o número de crianças que chegam ao 4º e 5º ano sem saber ler e escrever, aumenta a cada ano que passa.

Que a educação precisa de investimento na formação do professor e a família tem que estar mais presente, são fatos indiscutíveis. Que reprovar um aluno é uma decisão que penaliza também o professor é verdadeiro. Mas, deixá-lo evoluir sem que ele tenha aprendido é enganá-lo, enganar a família e a nós mesmos, já que, mais cedo ou mais tarde, ele vai ser retido.

Para a professora da Universidade de Brasília (UnB), Fátima Guerra, a reprovação não é admissível em hipótese nenhuma e pode causar consequências negativas para a criança. “Quando há retenção do aluno, a reprovação é também da escola. Todos nós somos programados para aprender. Quando isso não acontece é preciso prestar atenção no que está acontecendo, mas a função da escola é ensinar”, argumenta. A professora foi secretária de Educação do DF e conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE) e acredita que a escola deve lutar pela aprendizagem do aluno e acabar naturalmente com a retenção.
Não concordo com a professora Fátima Guerra e fico ainda mais preocupada em saber que são pensamentos como os dela que tem tornado nossos dias como educadores cada vez mais difíceis e penosos. A função da escola sempre foi e sempre será a de ensinar, mas também queremos proporcionar a nossos alunos um ambiente de aprendizagem capaz de torná-los mais felizes e motivados, capazes de evoluir e crescer de forma harmônica. Neste momento, a escola não está realizando nenhuma destas funções adequadamente, prisioneira que está de fazedores de leis sem sentido e coerência. Infelizmente, não há como não estar em pânico...

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