sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Diálogo Necessário

 


Ao pensar na morte, seja a simples idéia da própria morte ou a expectativa, mais do que certa, de morrer um dia, seja a idéia estimulada pela morte de um ente querido ou mesmo de alguém desconhecido, o ser humano maduro normalmente é tomado por sentimentos e reflexões.
Esses pensamentos, ou melhor, os sentimentos determinados por esses pensamentos variam muito entre as pessoas. Também variam muito entre diferentes momentos de uma mesma pessoa. Podem ser sentimentos confusos e dolorosos, serenos e plácidos, raivosos e rancorosos, racionais e lógicos, e assim por diante. 
Enfim, são sentimentos das mais variadas tonalidades.
Isso tudo pode significar que a morte, em si, pode representar algo totalmente diferente entre as diferentes pessoas, e totalmente diferente em diferentes épocas da vida de uma mesma pessoa.
Como educadores, temos diante de nós muitas vidas que, em algum momento, irão enfrentar perdas pelo falecimento de pessoas próximas. Como auxiliá-los a compreender e elaborar os próprios sentimentos? Esta reflexão nos leva também para a pessoa do educador e sua vivência relativa ao tema. Pelo fato de este ser um sentimento que nos torna a todos muito vulneráveis, o fato de sermos adultos responsáveis perante uma criança enlutada, requer um olhar de acolhimento a si mesmo. E, sob este aspecto, nem todos sentem-se preparados para trabalhar o tema morte com suas crianças.
Assim, busquei algumas referências que possam servir de auxílio aos educadores em sua atuação junto aos alunos.
Crianças não desconhecem a realidade da morte, elas têm sua forma própria de perceber, compreender e reagir a ela, forma esta que está sempre presente em suas brincadeiras, curiosidades e em suas próprias experiências de perdas e luto. O adulto que silencia diante da morte não está protegendo a criança, e sim, deixando-a sozinha com suas dúvidas, ansiedades, temores e fantasias. Na verdade, esta é a forma que o adulto encontra para proteger a si mesmo e a seus próprios temores. Ajudar-se também faz parte do crescimento emocional do educador. A partir daí, ficará mais fácil propiciar um espaço de discussão, reflexão e troca de experiências sobre a morte no universo infantil, a fim de encontrar formas adequadas e seguras de conversar com as crianças, de ajudá-las a melhor compreender e lidar com a morte e as perdas que irá sofrer no decorrer de sua vida.
Nos desenhos animados, a casa desaba e o personagem sai dos escombros ileso, lépido e faceiro. Como acreditar então em morte irreversível? Crianças entre dois e quatro anos raramente se perturbam e ficam ansiosas pela visão da morte, pois não têm idéia do que ela significa. A irreversibilidade é um conceito que ainda não existe nessa faixa etária. Esses sentimentos emergem por volta dos cinco ou seis anos. Um pouco mais tarde, por volta dos sete, começa a aparecer o sentimento de perda, ao mesmo tempo em que a criança começa a ler e a entender melhor a realidade que a cerca. Violência, câncer, acidentes e tóxicos já podem entrar no bate-papo. É justamente nessa fase que ocorrem a maioria das perguntas sobre a morte. As perguntas podem parecer difíceis até para os adultos – por que ela viveu tão pouco? Para onde ela foi? – mas as respostas devem ser simples e verdadeiras, baseadas nas suas crenças pessoais. Se o educador não sabe a resposta ou têm dúvidas sobre o assunto, pode dizer isso para a criança. O que vale é passar uma idéia na qual se acredita. É sempre preferível dizer a verdade - a sua verdade.
Como lidar com a situação:
> Diga sempre a verdade. Evite criar histórias mirabolantes e fantasiosas. Se disser que a pessoa que morreu foi para o céu, um lugar maravilhoso, cheio de brinquedos, por exemplo, a criança pode querer ir para lá também. Além disso, o pequeno nota a incoerência do argumento, pois se o lugar é tão bom, por que todos estão tristes?
> Respeite o tempo da criança. Ela pergunta de acordo com a sua capacidade de entender.
> Dê respostas curtas e objetivas. Avance apenas se a criança pedir mais explicações.
> Respeite o desejo da criança. Se ela faz questão de ir ao velório, leve-a (não precisa ficar o tempo todo).
> Use exemplos do cotidiano.
> Evite desmentir a versão da família. É importante saber como os familiares abordam a questão, para evitar conflitos à criança.  Se achar necessário, sugira ajuda profissional.

Para mais sugestões indico o site: http://www.persona-site.com.br/ , que, além deste, traz orientações sobre os mais diversos temas.
Alguns livros infantis que abordam o assunto:
Os Porquês do Coração (Conceil C. Silva)
Vó Nana (Margaret Wild)
Menina Nina (Ziraldo)
Eu vi mamãe nascer (Luiz Fernando Emediato)
A Montanha Encantada dos Cisnes Selvagens (Rubem Alves)
Quando os Dinossauros Morrem (M. Brown)
A história de uma folha (Leo Buscaglia)
Tempos de Vida (B.Mellonie e R. Ingpen).
É importante lembrar que, quando as crianças não fazem perguntas sobre a morte de um ser querido, não significa que não as tenham. Eles percebem que formulá-las abertamente provocaria angústia e incômodo nos adultos. Se não se falar sobre isso, aparecem sintomas (físicos e psíquicos) de diferente gravidade.
A verdade é triste, mas ignorá-la, pode adoecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário