Em minha prática profissional tem sido recorrente e significante a presença de pais na escola. Uma tarefa que, algum tempo atrás, era de responsabilidade exclusiva das mães, agora conta com a figura paterna, muitas vezes sendo o único responsável pela guarda dos filhos após a separação, ou tendo mais tempo disponível para acompanhar o desenvolvimento escolar das crianças.
Em tempos nos quais o divórcio é completamente natural e a adoção por parte de casais de mesmo sexo já é mais aceita, o papel de pais e mães no seio da família é mais elástico e não tão padronizado como antigamente. Mesmo assim, algumas características persistem e a discussão sobre elas só tende a fazer crescer a qualidade da educação provida por pais envolvidos ativamente na criação de seus filhos.
Segundo estatística do IBGE, aumentou o número de crianças que desejam morar com o pai após o divórcio. Há vários motivos para isso. Excluindo casos extremos, a explicação passa longe de ser falta de amor pela mãe. A razão pode ser simplesmente um vínculo maior com o pai, ou mesmo o desejo de experimentar um novo estilo de vida. Será que o homem está preparado para assumir esse papel?
Ser pai não é duplicar a função de mãe, mas sim dar uma nova dimensão à vida da criança. A construção de relações afetivas duradouras e saudáveis, seja com o pai seja com a mãe, só traz vantagens para o desenvolvimento de uma criança: ao terem um papel mais ativo no acompanhamento dos seus filhos, vão contribuir para a formação de expectativas relativamente a relações futuras que as crianças possam vir a desenvolver.
Temos que distinguir entre o papel e a função de pai. O papel é mais normativo, tem a ver com as obrigações morais que ele deve ter diante de sua família. A função é algo mais profundo, diz respeito ao mundo interno da criança, à sua personalidade, seu lado emocional. É função do pai estabelecer limites à criança, passar a idéia de que existem limites na vida. Essa é uma das principais funções do pai: estabelecer a noção de que a criança não é o centro do Universo, que ela convive em sociedade. A mãe madura, que não se sente culpada e ansiosa, também exerce essa função do limite. Ela explica para a criança que tem que trabalhar, que quer ver televisão, conversar com as amigas. Mas, em geral, a função é do pai, porque a mãe também tem esse desejo de simbiose, de ficar grudada com o filho.
Não é porque se deseja algo que teremos a capacidade interna de realizar aquilo. Um homem carente, que ainda espera receber do mundo, da mulher, dos amigos; que é queixoso, lamentoso, ele ainda é um filho. Ele ainda quer ser cuidado, se sente injustiçado por achar que não recebe o amor que merece. Esse desejo inconsciente vai criar conflitos com o desejo consciente de ser pai. Vão surgir conflitos porque ele não pode se doar tanto, já que não tem uma reserva emocional de amor grande e autoestima elevada. Ele vai querer ser um bom pai, mas não vai conseguir. Não é uma simples questão de deliberação.
Quanto a ser um pai presente ou ausente, o que se observa é que há várias dimensões de ausências. O pai pode, inclusive, estar junto e ser ausente. Pode ser presente fisicamente e ausente emocionalmente. Mas também pode estar distante fisicamente, mas presente emocionalmente, buscando na escola, ligando, conversando o tempo todo.
Quando a ausência é resultado da separação, este é um fato difícil para o pai e o filho administrarem. Em geral, percebe-se, na escola, mudanças no comportamento da criança (agressividade, choro, gritos, etc). A presença do pai na escola, disponibilizando-se a compartilhar, com equipe diretiva e educadores, as dificuldades que possa estar vivenciando na relação com a criança, pode ajudar efetivamente na mudança deste quadro. Arregaçando as mangas e indo à luta, qualquer pai pode desempenhar bem esse papel. O homem moderno é obrigado a improvisar e aprender na prática, e, quase sempre, se descobre um ótimo pai. Com uma postura diligente e carinhosa consegue estabelecer uma relação direta e imediata com o filho, aproximando-se mais dele. Quanto mais dedicação, compreensão e bom senso, maior será o fortalecimento dos vínculos familiares.
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