terça-feira, 26 de julho de 2011

Dia dos Avós

 

Um belo conto do Tio Faso para lembrarmos, com muito amor e carinho, de nossos avós.

Coisas Velhas
Era dia de limpeza geral na casa. Vovólima abria os armários e de lá retirava caixas, sacolas e objetos e um monte de coisas que faziam acreditar que aquele grande móvel de madeira era bem maior do que aparentava. Fabine ficava futricando aqui e ali para ver se achava algo interessante.
A primeira coisa que chamou a atenção dela foi um abacaxi -não daqueles de comer e fazer doce- mas um duro e brilhante. Ele além de ser liso como um prato, era oco por dentro. Apesar de a Vovó falar que era um porta-coisas que ela ganhara da mãe dela, Fabine achava que ele não deveria ser gostoso de comer. Em outra caixa ela encontrou mais cinco coisas estranhas:
- Uma caixinha preta com dois olhinhos compenetrados;
- Uma espada com a ponta dobrada e cabo fino;
- Uma grade para capturar duendes;
- Um boneco que não se mexia (e estava pelado!); e
- Moedas de algum país desconhecido.
Com sua felicidade costumeira, Vovólima explicou que aquelas coisas eram respectivamente:
- Uma fita K7, com a qual as pessoas ouviam música;
- A espátula do bolo do casamento da vovó;
- Uma cúpula para proteger a comida das moscas
- Um bibelô de um menininho; e
- Moedas que se utilizaram antes do dinheiro atual.
Fabine não conseguia entender como colocar aquela tal de fita K7 para tocar no aparelho de CD. Ela era muito mais grossa que a abertura do mesmo. Ela também queria ter ido ao casamento da vovó para comer o bolo (os bolos da Vovólima são sempre gostosos). A sua comida ficava bem protegida dentro da sua barriga e o bibelô ela pediu para deixar no seu quarto. E tristemente soube que aquele montão de dinheiro não dava mais para comprar bala.
Após encontrar um monte de outras coisas ela ficou imaginando como a Vovó tinha tudo aquilo, afinal ela nunca vira aquilo à venda no mercado. Vovólima apenas explicava que eram apenas coisas velhas, que, assim como ela, estavam há muito tempo no mundo. Mesmo assim, Fabine retrucou:
- Vó, a senhora não é velha! Só é maior que eu! – ela gesticula colocando a mãozinha bem acima de sua cabeça.
- Claro que eu sou velhinha! – retrucou Vovólima com um ar feliz – e um dia você também ficará velhinha e terá netinhos fofos como você.
Para Fabine a Vovólima era apenas uma criança bem grande e não conseguia se imaginar “velhinha”. Ela começou a se lembrar das vezes que a Vovólima sentia dores no corpo e que não conseguia andar mais rápido do que ela quando passeavam na rua. Ela continuou:
- Vó, é muito ruim ficar velhinha?
Vovólima sentou-se em uma cadeira para falar calmamente com a neta:
- Vou ser sincera com você. Muitas vezes é ruim ser velhinha. Você fica com dores no corpo, não tem tanta força para realizar as tarefas. Se não se cuidar direito, fica de cama o tempo todo. Algumas pessoas mais jovens não te respeitarão e não darão lugar para você se sentar no ônibus…
- Nossa! Não quero ficar velhinha, Vó! – Fabine interrompe.
- Calma que não é tudo ruim assim. Ficar velhinha significa que você viveu muito nesse mundo. Que você aprendeu muitas coisas, que conheceu muita gente e que pode se divertir de montão. Mas não é só porque sua idade é avançada que isso pára: eu continuo aprendendo novas coisas, criando novos amigos e rindo muito, principalmente com você.
- Tente imaginar que a vida funciona como os meses do ano: ela começa sem saber o que vem pela frente. Alguns dias podem ser mais difíceis do que os outros, mas no final chega às férias e os dias de descanso que te permitem fazer tudo aquilo que você não podia antes.
Fabine sorriu. Ficar velhinha não é tão ruim como ela estava imaginando, afinal para cada inverno que termina sempre há uma primavera começando.

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