segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Deficientes Auditivos Oralizados e a Escola



Até entrar em contato com o caso de Fábio, que ingressou na escola em que atuo na classe de Educação Infantil, eu não sabia exatamente o significado de Deficiência Auditiva Oralizada. O primeiro passo (em minha opinião, o mais difícil) foi trabalhar com os pais do menino a necessidade de um encaminhamento médico, para podermos definir as ações a serem desenvolvidas para o caso. As questões emocionais de todos os envolvidos necessitam de um tempo de escuta, entendimento e aceitação, para que os pais possam estabelecer novos padrões de relacionamento com suas próprias limitações e com as de seu filho. Conversamos com a família, em um primeiro momento, relatando as observações feitas acerca do comportamento característico que Fábio apresentava: não respondia quando chamado pela professora; ora mantinha-se em silêncio e ora agitava-se, perturbando as atividades dos colegas e, quando conversava, fazia-o em um tom de voz muito elevado. Levamos algum tempo para vencer a barreira da tristeza e do constrangimento dos pais, mas, após estabelecermos um vínculo afetivo, que envolvia confiança e o desejo de estabelecermos condições para seu pleno desenvolvimento, Fábio foi levado ao especialista, tendo, assim, diagnosticada sua deficiência auditiva e a necessidade do uso de aparelho.
 Esta fase de descoberta do problema, entrevistas com a família e encaminhamento médico levou aproximadamente 2 anos. Fábio já havia concluído o 1º ano, sem alfabetizar-se e estava em adaptação ao uso do aparelho auditivo. Para auxiliá-lo nesta adaptação foi possível encaminhá-lo para atendimento fonoaudiológico, junto à Secretaria da Saúde do município, o que contribuiu de maneira significativa para um desenvolvimento mais harmonioso da criança em suas atividades escolares e em sua vida emocional.
Neste ano, Fábio está concluindo o 2º ano alfabetizado, com um bom desempenho na leitura e na escrita e totalmente integrado ao grupo. Para isto, foi determinante o acompanhamento de sua professora, uma profissional com larga experiência em educação de crianças portadoras de deficiência auditiva e tradutora de LIBRAS. Foi com esta profissional ímpar, a professora Juliana, que aprendi os principais fundamentos  da Deficiência Auditiva Oralizada, que se aplica ao caso de Fábio. Compartilho, a seguir, alguns dos conhecimentos que adquiri com ela.
Todos os surdos oralizados têm plena capacidade de proceder a leitura labial, o que lhes traz, na maioria dos casos, uma faixa de 90% de compreensão da linguagem falada. As maiores dificuldades que os alunos surdos enfrentam são as seguintes:

- quando o professor fala de costas para os alunos, fica impossível aos portadores de deficiência auditiva que fazem uso da leitura labial acompanhar a aula;
- quando o professor se desloca em sala de aula, o aluno deficiente auditivo perde totalmente o fio condutor do assunto tratado. A alternância entre a leitura labial e o silêncio absoluto traz ao aluno a sensação de que a aula não tem o menor sentido e que os ensinamentos não se encaixam numa correta seqüência lógica;
- quando os professores fazem uso de microfones, deveriam se preocupar em que estes não escondessem os lábios. Para o aluno deficiente auditivo a amplificação do som não lhes ajuda em nada. Todos fazem uso de aparelhos auditivos altamente performantes. A amplificação do som só traz atordoamento e o entendimento da matéria, sem a leitura labial, se torna impossível;
- quando o professor permite que todos os alunos discutam em voz alta, ao mesmo tempo, todos esses sons chegam aos ouvidos do deficiente auditivo no mesmo momento. Como as próteses auditivas são bastante performantes, esses sons se misturam num desarmonioso caos, chegando a confundir o deficiente ou podendo até mesmo, dependendo de como se encontra o ambiente, provocar problemas de dores de cabeça;
- quando informações como datas, horários, provas e testes são simplesmente faladas pelo professor, muitos deficientes auditivos perdem a informação completa;
- quando as aulas são ministradas sem o cuidado de haver isolamento acústico, os deficientes auditivos são extremamente prejudicados. Barulhos como ruídos de ventiladores e ar condicionados sem a devida manutenção, máquinas colocadas na proximidade das salas de aula, pessoas falando em voz alta no corredor, e qualquer outro som não inerente ao que se está tratando em sala de aula, prejudicam a concentração do deficiente auditivo e dificultam o entendimento da matéria exposta.

Para alguns, talvez, estes itens podem representar muito pouco diante da importância do tema. Mas, quando aplicados na prática fazem uma enorme diferença na vida destas crianças. Meu eterno agradecimento à professora Juliana por tudo que me ensinou.

Conhecer Fábio, trabalhar com ele e com sua família trouxe à minha vida profissional uma das mais belas experiências já vividas. Como ser humano basta-me o sorriso, o abraço e a única palavra que me disse em nosso último encontro: “Amo.” Precisa mais?

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