quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Recado aos Pais



Tenho observado, em minha prática, dois fatos preocupantes em relação aos pais de alunos em geral:
Ø  O primeiro diz respeito ao tema de casa, que as professoras costumam passar para os alunos, com o objetivo de reforçar conteúdos. O que tem ocorrido, com uma freqüência indesejável, é a constatação de que os deveres do aluno estão, na verdade, sendo feitos por um familiar. Ou não são feitos. Já me aconteceu de receber a visita de uma conhecida, solicitando minha ajuda para fazer o trabalho de escola de sua filha. A mãe, preocupadíssima, alegava que a menina estava com dificuldades na matéria e o trabalho ajudaria a melhorar suas notas. Perguntei-lhe a razão de a menina não fazer, ela própria, sua tarefa, ao que ela me respondeu: “ela preferiu ir brincar na casa de uma colega.” Não fiquei muito convencida de que esta mãe compreendeu minha negativa em auxiliá-la e as razões pelas quais ninguém deve fazer pela criança o que é de sua obrigação.
É a partir de atos como este que os pais outorgam a seus filhos o poder de domínio sobre eles. A idéia de que a criança não pode sofrer frustrações (uma reprovação seria caótica!) faz com que os pais busquem a solução que lhes parece mais fácil para o momento. Uma facilidade que, inevitavelmente, vai transformar-se no caos que buscam evitar. Acompanhar e orientar exigem tempo e disponibilidade do adulto. Mas, quando os pais não encontram  em si estas condições, duas situações emergem deste contexto: ou a criança vai para a escola sem as tarefas realizadas ou apresenta a tarefa realizada pelo familiar. Nenhuma destas situações vai resultar em efetiva aprendizagem e os resultados serão, mais cedo ou mais tarde, inevitáveis.

Ø  Meu segundo recado refere-se à participação dos pais em reuniões e entregas de boletins. Façamos um cálculo simples. Uma escola com 300 alunos tem 600 pais e mães. Na reunião de pais, convocada pela escola, se todos viessem faltaria lugar. Mas dos 600 pais aparecem (são dados estatísticos) menos de 60! O trimestre tem 90 dias, cada dia 24 horas, o que totaliza 2160 horas trimestrais. A escola pede aos pais apenas uma, no máximo 2 horas, para que discutam os problemas de seus filhos a cada 90 dias. E ainda sobram 2158 horas para os pais se ocuparem de outras coisas. Mas, é justamente nestas 2 horas que compromissos inadiáveis afastam os responsáveis pela criança de sua participação na vida escolar de seus filhos. O que a escola precisa pedir aos pais é que repensem suas prioridades, reavaliem sua atitude. Um dos fatores que influencia muito diretamente nos resultados de aprendizagem das crianças é justamente a percepção que elas tem da importância que o adulto confere ao que elas realizam, seja através do elogio, do diálogo ou da presença dos pais em sua escola.
O mundo mudou muito, e as crianças também. Só uma coisa não mudou: elas continuam a necessitar da presença cuidadora, reguladora, protetora, dedicada e atenciosa dos adultos. E estes adultos elas encontram tanto em casa quanto na escola, e só esperam que façamos nossa parte. De preferência, em harmoniosa parceria.

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